A maneira que ele escreve faz com que o livro pareça uma conversa de bar. Explico: quando estamos batendo papo, contando um causo, não contamos simplesmente que aconteceu o fato 1, depois aconteceu 2, em seguida aconteceu 3, e finalmente aconteceu 4 e acabou. Na prática a gente sempre para um pouco a história e começa falando de outra coisa.
Um exemplo hipotético do nosso dia a dia:
Duas vizinhas se encontram e batem papo.
- Menina, eu estava indo ao banco pagar a conta de luz e veio uma moça, super bem vestida e simpática, começou a puxar papo. E no meio da conversa, quando estávamos numa rua deserta, ela me assaltou!
Só com essa frase já dá pra essas duas vizinhas conversarem o resto dia falando de preconceito (pois a senhora não esparava que uma moça bem vestida e boa de papo pudesse ser uma assaltante), de como os bancos estão sempre lotados e ninguém respeita o fato de que os idosos tem preferência nas filas, ou falar de como a conta de luz está ficando mais cara... Depois de falar de tudo isso a senhora que foi assaltada termina contando como foi parar na delegacia para fazer o B.O.
Essa seria minha analogia ao livro do Kundera. Ele fala do amor entre Tomas e Tereza, e Franz e Sabina. Mas calma! Não desanime! Não é uma história de amor! Quer dizer, é sim. Mas é muito mais! Não é uma história de amor piegas, para menininhas namoradeiras... (tenho que ressaltar isso, pois se eu lesse uma resenha dizendo que "a insustentável leveza do ser" é um livro de amor provavelmene eu nem teria lido)
O Kundera usa essas relações amorosas pra falar de muita coisa: filosofia, política, história, Primavera de Praga (invasão das tropas soviéticas na República Tcheca em 1968), Beethoven, comunismo, mitologia, comportamento humano, literatura, um pouco de erotismo... E tudo isso no meio da história de Tomas, Tereza, Sabina e Franz.
Outra característica que torna a narrativa do Kundera parecida com uma conversa informal é a cronologia da história. Ele de repente conta uma coisa lá da frente, depois volta como se tivesse lembrado naquela hora de contar uma coisa que ficou, depois conta sob um ponto de vista de outro personagem...
Enfim, recomendo. Mas aqui vão algumas ressalvas.
Livro indicado para:
- quem gosta de filosofia, história, política e coisas do gênero;
- quem é adulto ou já tem uma certa "bagagem", para poder desfrutar do livro de maneira mais completa;
- quem nunca amou;
- quem não gosta de filosofia, história, política e coisas do gênero
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