AS (DES)AVENTURAS DE RAUL E MELEU
Episódio de hoje: "Tem que dar 30"
Inauguro neste post uma série de relatos de alguns "causos" que aconteceram (ou acontecem) com o meu amiguinho Raul e comigo. Peço desculpas aos leitores mais frescos, aqueles que se ofendem com linguagem chula, mas é que eu preciso reproduzir fielmente palavra por palavra do que foi dito. ;-)
[Não achem que sou um fraco, que não tive forças para meter a cara para o vestibular! Eu continuo estudando! Isso é só uma distração para esfriar a cabeça.]
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Nos primórdios de nossa adolescência éramos roqueiros, "ouié", e acima de tudo éramos révi. Mas não adiantava apenas sermos, tínhamos que mostrar para todo mundo que éramos. E para tal não adiantava apenas nos vestir de preto e colocar correntes e outros penduricalhos metálicos, tínhamos que adotar uma atitude de révi. E uma atitude interessante que tínhamos era de sair pegando os sacos de lixo das calçadas e jogar no meio da rua, espalhando o lixo pela rua. Era pura curtição! Ao ver aquele lixo se esparramando bradávamos um belíssimo "OUIÉÉ!".
Certo dia estávamos eu, Raul e Cabrunco (um outro parceiro révi) praticando essa saudável atividade naquela rua do lado do Liceu de Humanidades de Campos (para quem não sabe, isso é Campos dos Goytacazes/RJ), a rua do Terapia's Bar, quando fomos abordados por uma viatura com dois policiais. Aquele tratamento polido dos policiais para conosco merecia uma resposta no mesmo tom. Resultado: fomos parar na delegacia (não sei o endereço direito, mas é aquela delegacia perto da Formosa, na rua que cruza com a do Palácio da Cultura). Não tentamos fugir nem nada e por isso não precisamos ser algemados. E no caminho fomos com a cara na janela torcendo para que algum conhecido nos visse e concluísse o quanto éramos radicais (ouié!).
Chegando lá um dos policiais abordou um bigodudo delegado (ou alguém que faz o serviço que esses delegados que passam na TV fazem) e foi dizendo com aquele sorrisinho sarcástico:
- Esses anarquistas tão com fome e tavam revirando lixo pra procurar comida.
Nossa! Aquilo nos encheu de orgulho! Ele nos chamou de anarquistas! OUIÉÉ!!
- Manda eles pra cá que eu vô vê o que eu faço - respondeu o delegado.
E lá fomos nós três e o delegado para uma salinha ao lado do balcão de atendimento da delegacia.
- Pelo que tô vendo os três são dimenó... - disse o delega.
- É. Somos... - respondemos com uma ligeira satisfação em saber que ele não podia fazer algo legal (no sentido de "com respaldo da lei") contra nós.
- Olha, vou ver se alivio pra vocês. Vou fazer o seguinte: vou medir o tamanho da piroca de vocês três. Se somadas derem trinta centímetros vocês estão liberados, senão...
Nós três nos olhamos e creio que pensamos juntos "Ô cacete! O cara é viado!". E acho que estávamos com razão...
- Senão o quê? - perguntou Cabrunco, o mais valentão de nós.
- Senão eu posso fazer o que quiser com vocês três. - respondeu o bigodudo.
Como não tínhamos tempo para deliberar sobre o assunto, só nos restou aceitar.
- Puta que pariu! Mede logo essa porra que eu quero ir embora logo pra jogar um video-game! - eu disse. E nesta hora eu estava demonstrando que eu também sou valentão.
E fui medido. A cara de satisfação do delegado ao constatar que media dezoito centímetros me deu um misto de nojo e raiva, mas eu segurei.
- Agora é você, grandão - disse o delegado referindo-se a Cabrunco.
E então mediu-se o de Cabrunco. Dez centímetros. Neste momento acho que eu e Cabrunco pensamos a mesma coisa: "Agora e fácil! 18 + 10 = 28. Falta só dois pra chegar a trinta".
Chegou a vez de Raul e ele meteu a mão no bolso da calça, fechou os olhinhos e fez uma cara estranha. Depois de um tempinho mostrou o "documento" e disse:
- Vai lá. Pode medir.
Peço aos leitores que se lembrem daquele som característico dos jogos de futebol quando o cara bate uma falta e a bola passa raspando no travessão mas vai pra fora, aquele sonzinho: "Uuuuuhh...". Pois é, foi esse som que passou pela minha cabeça ao ver o resultado da medição: dois centímetros! Por pouco a gente não dança!! Uuuuuuhh...
- Porra! Que droga! Mas trato é trato. Vai lá. Cês tão liberado - disse o do bigode
Saindo da delegacia eu não podia evitar de deixar claro aos meus parceiros que só estamos livres graças a mim:
- Aê, cês tão me devendo essa, hein! Se não fosse os meus dezoitão a gente tava lá até agora!
- Que isso rapá?! - argumentou Cabrunco - Se não fosse os meus dez lá pra complementar a gente não chegaria nos trinta!!
E então Raul teve que jogar na nossa cara que estávamos livres por conta dele:
- Cês tão falando muito aí, mas a gente só tá livre por minha culpa! Imagine o que seria da gente se eu não tivesse de pau duro na hora!!
Tá certo... Brigadão Raul, te devemos essa.
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Moral da história: se aqueles révis-super-radicais-ouié que vão lá no SESC as sextas-feiras não forem bem dotados e continuarem com aqueles comportamentos, vão acabar descobrindo com mais detalhes o que o delegado bigodão faria se não tivéssemos chegado aos 30 centímetros.
hehehe...
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