terça-feira, outubro 29, 2002

Apesar de estar empolgado com a vitória de Lula e do Partido dos Trabalhadores como um todo, não sou nenhuma ovelhinha obediente pra não enxergar certas coisas. Li na Folha de S. Paulo de domingo (27/10) um texto de Eliane Catanhêde que dá uma alfinetadinha no PT. Mesmo não concordando com ela, achei uma crítica coerente. Transcreverei o texto dela (que também pode ser encontrado em http://www.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2710200203.htm):

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Em nome de um país melhor



BRASÍLIA - Em 1985, o Brasil viveu um pacto nacional para driblar a frustração das "Diretas Já" e chegar à democracia com Tancredo Neves -via colégio eleitoral. O PT ficou de fora e, não satisfeito, expulsou os deputados Ayrton Soares, Bete Mendes e José Eudes por desobediência.
Em 1988, o Brasil recorreu a um novo pacto ao convocar uma Assembléia Nacional Constituinte para tirar o ranço autoritário da Carta Magna e tentar adaptá-la à redemocratização. O resultado não foi perfeito, obviamente, mas foi um avanço. O PT se recusou a assinar.
Em 1992, o Brasil se mobilizou num novo pacto com todos os setores da sociedade, os partidos, os cidadãos e os caras-pintadas e afastou o presidente Fernando Collor, que derrotara Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas.
O pacto embutia a responsabilidade comum de dar sustentação política ao sucessor, Itamar Franco. O PT foi decisivo no afastamento de Collor, mas se negou a participar do pacto que foi o governo Itamar. A deputada Luiza Erundina discordou, assumiu corajosamente um ministério e acabou sendo expelida do partido.
Os anos passam, o mundo dá voltas, o Brasil amadurece e o PT finalmente deve chegar ao poder amanhã, inaugurando um marco na história do país. Um marco que se pretende de mudança, esperança, justiça, moralidade e igualdade.
E o mesmo PT que virou as costas ao pacto que elegeu Tancredo, ao pacto da Constituinte e ao pacto do governo Itamar conclama os cidadãos, os parceiros e adversários políticos para quê? Para aderir ao pacto ao qual jamais aderiu.
A situação econômica é grave, as condições internacionais são adversas e só mesmo com muita força política Lula e o PT terão condições de atravessar a pior fase de turbulência para, enfim, atender às expectativas lenta e gradualmente.
Se eu acho que os partidos devem aderir ao pacto? Acho. Mas registrando-se que todos estarão dando ao PT o que ele se recusou a dar a todos. Em nome, sempre, de um país melhor.
Recentemente, num papo que ia de "os vagabundos do MST" até um possível caos que seria um eventual governo Lula, ouvi uma pessoa dizer o seguinte:

- Rapaz, se você compra a terra ela é sua. Você pagou por aquilo e você faz o que quiser. Se você quer deixar lá parado você tem todo o direito, a terra é sua!

Eu não tenho muito dom pra ficar discutindo com pessoas cabeças-duras. Por isso apenas registrei. Não fiquei argumentando, na certeza de que jamais seria capaz de fazer essa pessoa mudar de idéia. E ainda mais que o assunto de eleições estava quente (era no domingo) e eu lá com adesivinho "Agora é Lula" no peito. Tá certo... Eu sei que deveria expor minha opinião. Estou lutando pra me corrigir nesse aspecto.

O lance é que ao ouvir isso eu me lembrei que quando comecei a ouvir falar de MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e suas idéias, lá no início da minha adolescência, eu achava a mesma coisa. Achava que seria uma violação do direito de propriedade privada. Mas, graças ao meu "querido" governo federal, eu tive acesso a educação e aquela biblioteca porreta lá do CEFET-Campos. E hoje minha opinião já é outra.

Se você compra um carro ele é seu. Você faz o que quiser com ele, deixa parado, usa pra ganhar dinheiro, usa pra passear com a família. Enfim, faz o que der na telha. Mas agora vem a questão chave: se você deixar esse carro parado vai estar prejudicando outras pessoas? A resposta é não.

Se você compra uma área de terra e usa pra produzir algo, beleza. Provavelmente estará dando emprego a algumas pessoas. Mas se você deixa a terra parada é outra coisa. Terra não é como carro, que basta fabricar mais um e colocar no mercado. Ela é uma coisa finita. Então se você tem uma terra fértil e a deixa lá paradona, sem produzir nada, você está prejudicando outras pessoas. E como sabemos o Brasil está cheio de gente que vive na miséria, gente que não tem nada, gente que se tivesse um pedacinho de terra plantava um feijãozinho pelo menos para a própria família comer e seguirem vivendo.

Por isso que a Reforma Agrária é uma medida urgente para o Brasil. Mas não é simplesmente dar terra, o ideal é dar a terra e também condições para que o pessoal possa produzir e quem sabe vender para ganhar uns trocados.

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Esse último parágrafo me lembrou do que um professor de história falou outro dia durante uma aula. Ele disse: "Gente, citem um país desenvolvido que não tenha feito Reforma Agrária". Silêncio na turma. "Podem desistir de procurar, porque não existe. Inglaterra, Estados Unidos, França... todos eles fizeram Reforma Agrária."

sábado, outubro 26, 2002

Vejam que "gude-gude" esse textinho que escrevi há uns dois anos atrás sobre a sociedade. E no final um comentário, atual, meu sobre ele.

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A Sociedade


Desde quando percebi que sou algo além de uma criança que só quer saber de brincar venho tendo problemas em entender isso que nós chamamos de sociedade. Não, acho que na verdade é a sociedade que tem problemas em me entender, pois eu não tenho muito interesse em entendê-la mesmo. É engraçado. Ela vem querendo me impor uma série de coisas que eu acho errado ou não concordo. Vem querendo me dizer como devo me vestir, como deve ser minha aparência, como devo agir, e muitas outras coisas. E o mais engraçado é que muitas vezes ela se contradiz e quer que não façamos coisas que ela mesma faz (ou o contrário).

Muitas pessoas (a sociedade) me dizem para fazer a barba (o meu rosto digamos que é um pouco peludo), e dizem de diversas maneiras. Uns perguntam com toda aquela vergonha, outros vêm tirando um sarro e ainda tem outros que não dizem nada, mas ficam olhando esquisitos (esses são os mais engraçados de lidar). Bom, eu não ligo a mínima para o que estas pessoas dizem, porém isso fez com que eu entrasse num debate comigo mesmo (não! Nem todo mundo que fala sozinho é maluco!). Irei relatar aqui como foi este debate.

- Primeiro vamos pensar nesta pergunta que todo mundo faz: Por que você não faz a barba?

- A primeira resposta que me vem à cabeça é: Porque não quero.

- Muito vago. Tente se explicar melhor.

- Já sei: Porque se eu raspar ela vai crescer novamente e aí vão me perguntar "Por que você não faz esta barba?". [risos]

- Mas você acha esta barba bonita?

- Não. Nem um pouco.

- Então! Não acha isso um bom motivo pra você raspá-la?

- Não.

- Você ficaria mais bonito!

- Pra quê eu iria querer ficar bonito?

- Sei lá! Pra arrumar uma namorada, pra fazer amigos mais facilmente... Essas coisas.

- Namorada eu já tenho uma, e ela nunca me falou que minha barba a incomoda e nunca me pediu para tirá-la. Talvez ela ache feio também (ou talvez não), mas creio que ela não me julga pela aparência, e sim pelo meu caráter. Afinal de contas, é por isso que eu a amo! [risos] Os amigos que eu tenho (os de verdade) não ligam pra minha aparência. E além do mais eu não iria querer arrumar namorada e/ou amigos que se importem com o que eu pareço ser e não com o que eu penso e faço.

Bom, aqui terminou o debate. Nem eu sabia exatamente o porquê de eu não fazer a barba e depois desta conversa comigo mesmo eu já sei: "Para não ficar bonito. Se eu ficar bonito as pessoas irão se aproximar de mim pela beleza e depois é que realmente vão conhecer o meu caráter. Se eu não ficar bonito, só irão se aproximar de mim as pessoas que não se importam com isso". Perceba que de vez em quando é bom você falar consigo mesmo.

Agora tem um assunto que diz respeito a uma certa "camada" da sociedade, aos grandões, a mídia e os que a controlam, são os que ditam as regras da sociedade (tais regras criticadas acima). O assunto é: manipulação. Bom, todos nós sabemos que a situação econômica no país (e em várias partes do mundo) não está nada agradável, desemprego, fome, menores abandonados. Enfim, uma infinidade de coisas. Porém o que eu vejo é o total desinteresse da sociedade em relação a estes assuntos. E ao meu ver o grande motivo disso é a manipulação. Sim! As pessoas são manipuladas pela mídia. Quando digo isso alguns me julgam radical demais, outros me julgam maluco, mas isso é a mais pura verdade. Com todos este problema nós temos na TV todo dia pessoas felizes, programas alegres, enfim: tudo numa boa. A mídia passa pra gente que está tudo bem e que política é chatice, político é tudo safado. Nós vemos os estádios lotados em dia de futebol, mas em dia de reunião no sindicato comparecem dez quando muito. Eu fico pensando sobre isso: Para discutir os próprios interesses e direitos o cidadão não está interessado, mas pra tirar do seu pouco dinheiro e dar aos que tem de sobra por um jogo de futebol ele está sempre pronto. Foi neste pensamento que eu cheguei a conclusão de que estamos sendo manipulados, pois ninguém que enxergasse isso iria continuar cometendo o mesmo erro.

Termino esse texto pedindo a você que esteja lendo para que não aceite as coisas que lhe são impostas sem antes refletir. Em caso de dúvida converse consigo mesmo. Alguns podem te chamar de maluco, mas quem se importa com o que os outros pensam?

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Tem uma coisa neste texto que mudou nesse tempo. É que hoje eu não tenho mais namorada, mas de qualquer forma a minha opinião continua valendo. E esta pessoa que era minha namorada eu continuo amando e nossa amizade continua cada vez mais forte. :-)
Hoje no debate entre os candidatos a presidência Serra disse: "... precisamos de mais leis, de leis mais duras, ...um criminoso que foi condenado a mais de 20 anos não pode receber um novo julgamento e ser libertado antes..."
Quando ouvi isso meu cérebro processou inumeras imagens, coisas que já vi, ouvi...:
Imaginei Serra sendo preso, imaginei as cadeias superlotadas, imaginei um cara trancado por mais de 20 anos num cubículo, lembrei que um professor meu disse que o Brasil tem boas lei, só precisa que seja fiscalizado o cumprimento delas, ae logo lembrei que ele se referia a leis ambientais, ...e agora penso:" Serra acha que se deve retirar o direito de um novo julgamento, e o direito de julgamento especial para ele e os amiguinhos dele?

Acho que as pesssoas condenadas a prisão devem ter uma nova chance de se integrar a sociedade. Para que isso funcione bem eu idealizaria a cadeia como sendo um local onde os presos poderiam trabalhar, estudar, prestar serviços...e não se graduarem na criminalidade.
Aposto que muita gente pensa assim, quem sabe um dia isso aconteça...
Eu penso nisso há tempo, com alguns detalhes de como seria, espero os comentários pra discutir esses detalhes.

Diálogo com um dependente químico (alcoolismo)


Isso era pra ser uma entrevista para um trabalho que minha irmã tinha que fazer para a faculdade, mas acabou se tornando uma conversa. Coloco isso aqui para que os leitores percebam que nem todo mundo é bêbado por livre e espontânea vontade... Bem, não quero comentar muito aqui, vou esperar que vocês comentem e aí a gente começa opinar sobre isso.

A conversa ocorreu num lugar chamado "Abrigo João Viana" (aqui em Campos dos Goytacazes/RJ), que é de um hospital
psiquiátrico, e a pessoa entrevistada se encontra internada neste hospital.

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Aluna: Como você veio parar aqui? Por quê? Eu queria que você falasse o que você tivesse vontade...

Entrevistado: Foi por causa do álcool, é que minha profissão é pedreiro, né? Trabalho muito tempo com obra, e devido à constância de bebidas fui perdendo, não obras, mas família, muitos créditos de confiança. E vim parar aqui dentro porque eu tive força de vontade pra poder parar de beber. Porque o álcool te destrói muito lá fora. Você fica sem confiança, você fica sem crédito. “Ah, mas eu trabalho o dia todo, chego de tarde e bebo com o meu dinheiro” é o tal do bêbado ignorante, que acha que a ignorância é...

A: O dinheiro é dele ele pode fazer o que quiser.

E: É, é dele e ele pode fazer o que ele quer. Mas acontece que não é assim. Quando você pára aqui dentro é que você vem passar no que fez, no que você faz lá fora. Aqui dentro é que você vai vendo que... Sua mente a começa a refletir no que você...

A: Já fez...

E: Perdeu lá fora, vai perdendo e cada vez que você... Cada um porre, cada um trago de bebida que você vai dando, um gole, você vai perdendo um pouco da sua saúde. Muita gente não pensa... Mas só quando pára aqui dentro...

A: Aí você foi ver isso só quando você veio para cá, né?

E: É, porque você parou uma semana...

A: Você pára pra pensar...

E: Você pára pra pensar, você pára pra refletir...

A: Tudo que já passou, tudo que você já perdeu...

E: Tudo que perdeu... Família, porque pai e mãe não tenho, mas esposa foi perdendo, você vai perdendo o carinho que irmã, parente, ente querido, essas pessoas, você vai perdendo tudo. Aí você vai vendo que é um afastamento...

A: Que você precisa mudar e...

E: É, você tem como mudar, mas basta você querer. Não é a mesma coisa que você...

A: Você precisa de uma ajuda, né? E você, buscou ajuda?

E: É, você busca ajuda aqui dentro, né? Como hoje tem o grupo do AA [Alcoólicos Anônimos] que já te fortalece mais, que vai passando sua troca de experiência, no diálogo com um, diálogo com outro, você vai vendo o que a bebida faz. Mas tem muita gente que não entende. Porque o alcoolismo é uma doença...

A: É, tem gente que acha que a pessoa faz porque quer, né?

E: Porque quer e porque é sem-vergonha. Acha que “ah, fulano bebe porque é sem-vergonha, porque não tem força de vontade”, mas não.

A: E você acaba ficando dependente, né?

E: Dependente. Eu já levei um ano e dois meses parado, sem bebida, mas a vida ficou boa, estabilizou tudo normal, ficou ótimo, mas por causa de uma simples dose voltou tudo de novo, e volta pior.

A: Você volta com mais vontade, já tinha um tempo parado, acaba voltando...

E: Parado... Então aquele um ano e dois meses parece que fica dois anos e quatro meses sem beber nada. Então volta pior. Você bebe muito mais. Aí tudo vai se acabando... E fora as agressividades que a pessoa passa também, né?

A: Porque as outras pessoas não entendem...

E: Não entendem e a pessoa também fica agressiva, as vezes a pessoa fala uma coisa com você e você acha que...

A: Logo fica nervoso...

E: Nervoso e a pessoa está falando alguma coisa com você, e você abaixa a cabeça ou as vezes revida com outras palavras piores, com palavrões, e a vida não é assim. A vida a gente tem que ver que ela tem dois lados. Mas são dois lados bons, mas tem pessoa que vê como uma faca de dois gumes: é o lado ruim e o lado bom. Ela tem o lado ruim, que é a parte que corta, e ela tem o lado que não corta, que é as costas dela. Mas a gente tem que observar também que a vida não é só tragédia, só derrota. Tem vitória também, mas basta você querer. E aqui dentro que eu fui pensar, analisar, observar a vida e o quê que ela é. Porque muitas vezes, quando você pára aqui dentro pensa assim “Poxa, minha família não teve pena de mim, não teve compaixão”. Mas a gente tem que lembrar também que a gente apronta muito quando bebe dentro de casa.

A: A gente acaba magoando as pessoas, mas sem querer.

E: É. Porque as vezes você levanta no outro dia e não lembra o que fez...

A: Você não sabe e vai conversar com a pessoa e ela já te trata diferente...

E: Já trata diferente e as vezes eu... Eu, por causa de morar sozinho, as vezes minha irmã passava lá em casa e falava “E aí? Vai almoçar hoje?”. “Eu vou ver”. Ela “Nesse vou ver seu, eu já sei que hoje você não almoça, porque ou você vai trabalhar ou você vai beber”. E eu falei “Nenhuma das duas coisas, hoje eu fico dentro de casa”. Que nada. Dava meia hora dentro de casa, tomava um golinho de café que eu coava e saía pra rua. Engatava na bebedeira, chegava em casa quatro, cinco horas da tarde, tomava um banho, ia deitar. Dormia sem janta, sem almoço e acordava no outro dia péssimo. De novo para a bebedeira... Até que cheguei perto dela e falei “Dá pra você me ajudar?”. Aí ela: “Em quê? Dinheiro eu não te arrumo, serviço você tem de mais. É só você sair pra receber que o seu serviço está todo terminado”. É que eu pego e boto gente pra trabalhar pra mim e eu vou fazendo as empreitadas, vou botando gente e só vou receber no final de semana. E eu falei: “Não, uma internação. Porque eu já não agüento mais essa vida, todo dia banho com fogo, banho com ‘fogasso’”. Aí ela: “E a comida que eu estou mandando pra você? Você está comendo?”. Aí eu falei: “Nem um pouco”.

A: Mas ela mandava sempre comida pra você?

E: Sempre mandando comida pra mim. “E você já comeu tudo?”. E eu: “Vai lá em cima e vê”. Chegou lá, as quatro vasilhas com comida chega estava azeda. E ela: “É. O jeito é uma internação mesmo, já que você quer. Você vai estar vindo por sua vontade, eu não estou te obrigando a nada. Você que está pedindo”. Aí foi aonde que ela veio e conseguiu uma internação aqui, aí que eu vim aqui. E só aqui que eu paro. As vezes os colegas ainda brincam: “Que eu vou sair daqui, beber...”. E eu digo: “É gente”. Mas se você pensar no quê que perdeu nem quer beber mais.

A: Se você sabe que você tem esse problema de dependência, né? Pra quê que você vai voltar a beber se você pode ter uma vida normal, saudável, sem a bebida? Que prazer que isso vai trazer pra você?

E: E fora o estrago que ela faz por dentro da pessoa.

A: É. Faz muito mal a saúde...

E: Eu levei muitos dias sentindo dores por dentro, e até conversei com o médico. E o médico “Não, isso aí é normal da bebida mesmo. É a bebida que faz isso. Os remédios que você está tomando é que estão fazendo efeito devagar. Até uns quinze dias você vai sentir isso”.

A: Pra poder ir eliminando o álcool, né?...

E: Então eu sei o que passei durante esses quinze dias.

A: E você já está aqui há quanto tempo?

E: Um mês e doze dias. Já estou de alta. Mas em um mês e doze dias você já dá pra pensar bastante.

A: Já pensou bastante sobre a vida, né? Então está bom. Que você possa ter essa força de vontade. Continuar com essa força de vontade que você tem. E parar sempre pra refletir sobre sua vida, né? Não é ficar pensando o que ficou pra trás de ruim, mas sim com alguma validade do que ficou de ruim passar. E daí em diante, seguir sempre querendo mais, querendo o melhor...

E: É, pensar pra frente. Não pra trás.

A: Isso aí. Pensar pra frente.

E: Mas é bom de vez em quando você relembrar o passado, que aí você...

A: Pra você não cair de novo, né?

E: Não cair de novo, você não pisar na tábua em falso.

sexta-feira, outubro 18, 2002

Propaganda do Lula e Privatizações



Na propaganda eleitoral do PT é mostrado que em Angra dos Reis muita gente está desempregada porque a Petrobras mandou construir uma plataforma em Cingapura. Nesta propaganda o Lula fala que "a Petrobras, inexplicavelmente, mandou construir esta plataforma em Cingapura". Na verdade isso tem uma explicação, e acredito que o Lula usou o termo "inexplicavelmente" para simplificar o assunto, para não precisar gastar tempo do horário eleitoral explicando. Pois, ao contrário do que os anti-lulistas dizem por aí, eu não acho ele um cara de pouca inteligência.

Mas eu não quero ficar defendendo o meu candidato neste post... :P Vamos ao que eu quero dizer.

Não é muito difícil de imaginar o motivo que levou Petrobras a ter mandado construir a plataforma em Cingapura. A primeira idéia que me vem a cabeça é mão-de-obra barata, o que faz a Petrobras gastar menos. Esse é um dos problemas da privatização, essas empresas que antes empregavam milhares de brasileiros, agora vão procurar mão-de-obra barata lá fora e deixando milhares de brasileiros desempregados.

Se a plataforma fosse construída aqui teríamos milhares de brasileiros empregados, com seu sustento, sem precisar de casas populares e/ou outras dessas medidas que servem para dar uma esmola para o coitado utilizando verba que poderia ser usada para outros fins (educação, saneamento básico, etc.). Está bem, eu concordo que iria custar mais para a Petrobras, mas iria custar muito menos para o Brasil! Por isso é que alguns setores não deveriam ser privatizados, pois a iniciativa privada pensa mais no lucro do que em outra coisa, e não se importa em criar boas condições para os brasileiros trabalharem.

O empresário não percebe que se ele dispensasse os luxos supérfluos (isso é pleonasmo?) poderia dar vida mais digna para os trabalhadores e estes não o importunariam com violência, exigências, greves, etc. Epa! Peraí! Acho que esse raciocínio meu tem um nome: socialismo utópico. Acho que é isso...

Será que sou utópico? Será que devo pegar em armas e ajudar aos menos favorecidos? Será que os menos favorecidos estão interessados em minha ajuda? Será que devo esquecer isso e pensar somente em viver a minha vida?

quinta-feira, outubro 17, 2002

Hoje assisti a uma palestra sobre Bambu e Fibras Vegetais, bom, acho que fibras vegetais não devem interessar aos leitores deste blog, e não é disso que vou falar.
Bem para começar o nome do palestrante indicava que ele não era brasileiro, e foi só ele dizer um pedaço de palavra pra eu ter certeza disso.
Ele então começou a dizer os cursos que já fez(e foram muito) onde trabalhou, falou onde morou (Canadá, Inglaterra...), mas ainda eu não sabia de onde ele era. Sua figurinha era de uma simpatia que só vendo e ouvindo.
Ele começou a falar sobre o trabalho dele com bambu, e a resistência que brasileiros fizeram diante de suas idéias de trabalhar com o bambu.
Bem, entre um slide e outro apareceram construções na Pérsia (hoje Irã) que utilizava de materiais da região, aí ele nos disse que era a terra dele. Eu sei que isto pode não ter nada a ver, mas me amarrei no fato de eu estar assistindo a palestra de um iraniano, afinal isto nunca tinha acontecido antes.
Bem, esta pessoinha que me pareceu tão simples, simpática e sincera falou muita coisa interessante nesta palestra, vou colocar aqui o que ele disse, mais ou menos e fora de ordem porque não tenho gravador, e não anotei tudo, porque fiquei adimirando o que ele falava...
Ah, pelo que parece ele chegou ao Brasil na década de 70.

Ele disse que os brasileiros achavam o bambu um material ruim, não deram valor a sua pesquisa no início, não acreditando no material que tem disponível. Que o Brasil com muito potencial acadêmico utiliza dos produtos originados em outros países e não pesquisa sobre a utilização da sua matéria prima, em produtos específicos para o clima, a cultura, ...do brasil.
Foi nesta parte que ele mostrou a Pérsia com seus castelos construídos com solo.
E disse que hoje em dia você chega em certos países e é tudo igual, os mesmos materiais, sendo que cada tipo de lugar é diferente, e até as normas brasileiras e de outros países em desenvolvimento seguem as normas americanas, que se aplicam bem aos EUA, mas nem sempre aos outro países.

Então ele falou que muitos alunos e professores se interessam por pesquisar materiais sofisticados, criar um novo material,... mas nada disso traria para benefício da sociedade, que mais válido seria estudarem os materiais e matérias primas da região, pra que a sociedade tenha acesso da melhor forma os materiais disponíveis para ela, em termos de custos e qualidade, ele disse que as instituições de ensino e pesquisa precisam desenvolver tecnologias e materiais que melhorem a vida das pessoas, e não algo que nunca será utilizado, que este pensamento antigo tem que mudar.
Aí ele disse da forma mais natural: Agora com Lula isto deve melhorar. (ou disse algo bem parecido)

Depois falando sobre o bambu perguntou: Vocês devem saber que Santos Dumont construiu o 14 bis e Demoselle com estruturas de bambu, não é?
Simplesmente ninguém da platéia sabia, ele perguntou novamente:
Qual de vocês sabe disso? e ninguém respondeu,
Ele demonstrou muita indignação quanto a isso, ficou alguns minutos ainda tentando tirar da boca de alguém uma resposta do tipo: eu sabia!
Mas todos estavam descobrindo ali, por um iraniano,que o tão famoso avião brasileiro era de bambu.
Então ele disse: É lamentável que vocês não saibam disso.
E ele realmente estava indignado.

Um outro projeto dele foi uma bicicleta feita de bambu, que ele chamou de bambucicleta, disse que opinaram de colocar bike no meio do nome mas ele quis em português mesmo, afinal é do Brasil.E ele se disse brasileiro de coração. Esta tal opinião deve ter vindo de um brasileiro.

Ele disse que o problema do Brasil e de outros países em desenvolvimento estava no sistema de educação, e que o Brasil é um país muito rico pra viver os problemas que vive.

Bem, a palestra foi ótima!!!
:)

terça-feira, outubro 15, 2002

Esses dias rolou um assunto sobre política na aula, não assisti a esta aula, ando muito relapsa (mas isto é um outro assunto), bem de qualquer forma um amigo me contou como o fato se procedeu...
Durante a aula surgiu o assunto de eleições, e alguém disse que se Lula fosse eleito iríamos viver novamente a ditadura, coisa que eu não acredito, Então o professor disse que prefere a ditadura, porque na época ele 'vivia bem com o salário de servente, podia andar pelo Leblon a noite, sem perigo,...'

Bem, eu dou muito valor a liberdade, por isso não gostaria que a ditadura mais uma vez se instalasse no Brasil.
Acredito que muitos(senão todos) os benefícios da Ditadura são possíveis sem a necessidade de tirar a liberdade do povo, extingüir a corrupção seria a melhor coisa que o homem poderia fazer por si mesmo.

Porém, acho que se eu tivesse tendo um contato mais direto com a violência ou tivesse passando fome, ou desempregada mãe de cinco filhos, e jurada de morte pelo marido desgraçado pela vida, eu pensaria diferente. Ou nem pensaria em nada.

Ou então, melhorando meus argumentos, se eu fosse uma professora desempregada há 4 anos, marido desempregado há 3 anos e filho doente pra comprar remédio, acho que eu preferiria a Ditadura.

Acho que muitas vezes só quem vive o problema entende como é importante uma solução imediata, mesmo que seja falha.
Acho que muitas vezes só quem não vive o problema entende como é importante uma solução decente.

sexta-feira, outubro 11, 2002

O Coronelismo vive!



Há uns anos atrás eu aprendi nas aulas de história o que é coronelismo, voto de cabresto, e afins. Mas como eu aprendi isso nas aulas de história, achei que eram coisas antigas, que não aconteciam mais. Que ingenuidade...

Cheguei a casa pra almoçar e revi uma moça que já trabalhou aqui como empregada doméstica (ooops! perdão. Hoje em dia é politicamente correto falar "secretária do lar") por muitos anos e veio nos visitar. Ela parou de trabalhar aqui quando a situação financeira da família não nos permitia o luxo de ter uma empregada, sem muita opção ela acabou indo cortar cana. Ah! Vale lembrar que ela não sabe ler e só sabe escrever o nome.

[Reli o parágrafo acima e percebi que pode dar a entender que R, como irei chamá-la a partir de agora, é uma desgraçada que vive lamentando o fato de não ter tanta sorte na vida. Mas é muito pelo contrário, ela é bastante bem humorada e leva as dificuldades "na raça", sem choramingar...]

Nós começamos a conversar e ela me disse que estava sem casa. Bem... para agilizar eu vou escrever mais ou menos como foi o diálogo. Mas antes é preciso um "prelúdio", um "background", para um bom entendimento. Existe um vereador de Campos que é de Rio Preto, ele costuma "ajudar" as pessoas de Rio Preto. Essa "ajuda" tem seu preço, mas pro pessoal de lá é quase de graça: basta votar no partido desse vereador ou nas pessoas que ele indicar. Vou chamar esse vereador de S.

Bem, vamos a conversa.


- É Augusto, agora estou sem casa. O dono da casa que eu pagava aluguel vendeu mas nem me avisou. Já chegou lá me avisando que vendeu. - Em tempo: R me conheceu quando eu tinha 6 meses de idade, e por isso é uma das poucas pessoas que me chama de Augusto.

- Uai! E o novo dono, já está lá? - perguntei.

- No dia em que fui avisada da venda o novo dono já chegou, eu pedi uns dias mas ele não quis me dar prazo nenhum não.

- Ô cacete... E onde que você está ficando? Onde estão suas coisas?

- A chefe de um posto de saúde de lá deixou eu ficar num cômodo que está desocupado lá no posto. Mas daqui a pouco vão fazer reforma lá e eu vou ter que sair. - Outra informação: isso é em Rio Preto, aquele distrito de Campos que fica no caminho para São Fidélis.

- Mas e aí?! Como é que você vai fazer?!

- Tem umas casas populares lá. Me disseram que já acabaram as vagas, mas eu acho que é mentira, porque tem gente que nem casou ainda e já tem a casinha lá esperando. E um amigo meu que toma conta de lá me disse que tem umas nove casas que não tem ninguém morando. - Mais uma explicação: "nem casou ainda" quer dizer "ainda não formou família e mora com os pais". - Eu fui ver com S se tinha como conseguir uma casa pra mim mas a mulher dele disse que eu e minha família não votamos no partido dele e que nem adianta pedir. E que ela tem anotadinho quem votou em quem.


Nós conversamos mais um pouco e eu fiquei sabendo de outras pilantragens, mas o ponto que eu queria comentar é esse do voto.

Acredito que se você, leitor, está lendo isso aqui então você é um cidadão urbano, e provavelmente tem a sua casa pra morar e sua comida pra comer. Eu estou nessa condição também. Pra nós isso é coisa de aula de história, né? Mas esses lances acontecem hoje em dia. Basta pegar uma população com pouca instrução que vai ter um safado querendo explorar se aproveitando disso! Essas pessoas não tem muita condição de reclamar. Reclamar com quem? Os órgãos "competentes" (entre aspas) são chefiados por esses pilantras, que chantageiam o povo na hora de votar. Nessas localidades não tem essa de voto secreto. Tá certo que ninguém vai te vigiar na urna, então você pode mentir quando te perguntarem em quem você votou. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, esse pessoal mais humilde é quem menos mente.

E a R vai continuar tentando dar o jeito dela de arrumar uma casinha. Mas já disse que se não conseguir vai "meter a boca no trombone". Vai em rádio, jornal, Chico na TV e os cacete! Armar um escândalo! E também é por isso que estou escrevendo isso, pois se você que está lendo trabalha na imprensa, conhece alguém que trabalha, é amigo de alguém que conhece quem trabalha, etc. e estiver interessado cobrir isso entre em contato comigo pelo email mz@meleu.cjb.net.

sábado, outubro 05, 2002

Reli meu post de terça-feira (01/10), aquele sobre o artigo do Rui Pimenta (PCO), e percebi que posso ter me expressado mal, já que escrevi aquilo meio sonolento.

Bom, gostaria de retomar o assunto apenas pra dizer que o que o Rui Pimenta propõe jamais será possível por meios legais. Para aquilo acontecer são necessários meios drásticos. Então que venha a revolução!!

sexta-feira, outubro 04, 2002

Bem eu estava com vontade de esvrever algo, na verdade algo que penso, uma idéia, um comentário, sei lá... mas ae fiquei sem idéia, ae queria escrever um conto ou um outro texto (minha amiga escreve no blog dela ae queria imitar), mas no momento também estou sem idéia pra isso, o que não é raro.
Ae pensei: vou então colocar a letra de uma música, ou trecho de um livro, que passe alguma idéia do que penso... ae lembrei de uma música, ...que por acaso tem nome de conto...

CONTOS DA LUA VAGA

Esperança viva
Que o sangue amansa
Vem lá do espaço aberto
E faz do nosso braço
Um abrigo que possa guardar
A vitória, o sentimento claro
Vencendo todo medo
Mãos dadas pelas ruas
Num destino de luz e amor

Vem agora quase não há mais tempo
Vem com teu passo firme
E rosto de criança
A maldade já vimos demais

Olha, sempre poderemos
Viver em paz
Em tempo, tanto a fazer
Pelo nosso bem
Iremos passar
Mas não podemos nunca
Esquecer de mais alguém
Que vem,
Simples inocentes a nos julgar
Perdidos,
As iluminadas crianças
Herdeiras do chão
Solo plantado não as ruínas
De um caos

Diamantes e cristais
Não valem tal poder
Contos de luar
Ou a história dos homens
Lua vaga vem brincar
E manda teus sinais
Que será de nós
Se estivermos cansados
Da verdade, do amor

Esperança viva
Que a mão alcança
Vem com teu passo firme
E rosto de criança
A maldade
Já vimos demais...
(Beto Guedes)

terça-feira, outubro 01, 2002

Li na Folha de S. Paulo um artigo do candidato a Presidência da República pelo PCO (Partido da Causa Operária), Rui Costa Pimenta. Durante a leitura deparei com os seguintes parágrafos (reproduzidos assim como estão no jornal):


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Para o movimento operário e o conjunto da população explorada, o grande desafio é construir uma alternativa real, nestas eleições e no próximo período: um novo partido, com um programa de luta por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo.

Um partido que organize a luta pelas mais sentidas necessidades da classe trabalhadora, como a redução da jornada de trabalha para 35 horas semanais, sem corte salarial, para combater o desemprego; o salário mínimo vital de R$ 1.500, contra as propostas demagógicas defendidas pela esquerda (US$ 100, aumento de 100% etc.); a dissolução da PM e o fim da repressão contra a população pobre; o fim do vestibular, para que todos tenham acesso ao ensino superior gratuito e de qualidade; o controle operário da produção; o não-pagamento da dívida externa; a revogação de todas as privatizações realizadas no país; o assentamento de todos os sem-terra, com a expropriação do latifúndio, entre outras.

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As propostas deste último parágrafo citado me deixa realmente empolgado. Mas vamos encarar os fatos: é possível fazer todas essas transformações apenas elegendo um presidente como o Rui Pimenta? A reposta é não!

Não adianta um presidente com vontade de fazer isso tudo. Pois como nós sabemos os poderes de nossa "democracia" (entre aspas) é dividido em três: Legislativo, Executivo e Judiciário. E para o presidente (Executivo) fazer alguma coisa nessas proporções é necessário que tenha apoio da maioria no Congresso (Legislativo, formado principalmente por nossos deputados). É bastante previsível a reação da maioria dos deputados, membros da elite brasileira.

Digo com convicção que o discurso do Rui Pimenta me agrada, mas a realidade vem e me dá um tapa na cara. O pensamento que me vem a cabeça é "Um degrau de cada vez". Não é por desacreditar, mas é que no cenário atual as propostas deste candidato jamais seriam realizadas. E por isso as mesmas acabam se tornando tão demagógicas quanto aquelas criticadas por ele.

[Em tempo:
procurei no dicionário "demagogia" e achei o seguinte: "exploração pessoal da excitação das paixões populares".]


Aproveitando o assunto...
Um fato a se notar é que pouca gente dá o valor merecido aos cargos de deputados estaduais e federais. Acontece que para que o teu candidato a presidente realize suas propostas é necessário que ele tenha maioria no congresso. Então, pra citar um exemplo, votar no Serra (PSDB) pra presidente e no Capelli (PCdoB - RJ) para deputado estadual é meio estranho...

Pense nisso na hora de escolher o seu "pacote" de candidatos! ;-)