sexta-feira, outubro 11, 2002

O Coronelismo vive!



Há uns anos atrás eu aprendi nas aulas de história o que é coronelismo, voto de cabresto, e afins. Mas como eu aprendi isso nas aulas de história, achei que eram coisas antigas, que não aconteciam mais. Que ingenuidade...

Cheguei a casa pra almoçar e revi uma moça que já trabalhou aqui como empregada doméstica (ooops! perdão. Hoje em dia é politicamente correto falar "secretária do lar") por muitos anos e veio nos visitar. Ela parou de trabalhar aqui quando a situação financeira da família não nos permitia o luxo de ter uma empregada, sem muita opção ela acabou indo cortar cana. Ah! Vale lembrar que ela não sabe ler e só sabe escrever o nome.

[Reli o parágrafo acima e percebi que pode dar a entender que R, como irei chamá-la a partir de agora, é uma desgraçada que vive lamentando o fato de não ter tanta sorte na vida. Mas é muito pelo contrário, ela é bastante bem humorada e leva as dificuldades "na raça", sem choramingar...]

Nós começamos a conversar e ela me disse que estava sem casa. Bem... para agilizar eu vou escrever mais ou menos como foi o diálogo. Mas antes é preciso um "prelúdio", um "background", para um bom entendimento. Existe um vereador de Campos que é de Rio Preto, ele costuma "ajudar" as pessoas de Rio Preto. Essa "ajuda" tem seu preço, mas pro pessoal de lá é quase de graça: basta votar no partido desse vereador ou nas pessoas que ele indicar. Vou chamar esse vereador de S.

Bem, vamos a conversa.


- É Augusto, agora estou sem casa. O dono da casa que eu pagava aluguel vendeu mas nem me avisou. Já chegou lá me avisando que vendeu. - Em tempo: R me conheceu quando eu tinha 6 meses de idade, e por isso é uma das poucas pessoas que me chama de Augusto.

- Uai! E o novo dono, já está lá? - perguntei.

- No dia em que fui avisada da venda o novo dono já chegou, eu pedi uns dias mas ele não quis me dar prazo nenhum não.

- Ô cacete... E onde que você está ficando? Onde estão suas coisas?

- A chefe de um posto de saúde de lá deixou eu ficar num cômodo que está desocupado lá no posto. Mas daqui a pouco vão fazer reforma lá e eu vou ter que sair. - Outra informação: isso é em Rio Preto, aquele distrito de Campos que fica no caminho para São Fidélis.

- Mas e aí?! Como é que você vai fazer?!

- Tem umas casas populares lá. Me disseram que já acabaram as vagas, mas eu acho que é mentira, porque tem gente que nem casou ainda e já tem a casinha lá esperando. E um amigo meu que toma conta de lá me disse que tem umas nove casas que não tem ninguém morando. - Mais uma explicação: "nem casou ainda" quer dizer "ainda não formou família e mora com os pais". - Eu fui ver com S se tinha como conseguir uma casa pra mim mas a mulher dele disse que eu e minha família não votamos no partido dele e que nem adianta pedir. E que ela tem anotadinho quem votou em quem.


Nós conversamos mais um pouco e eu fiquei sabendo de outras pilantragens, mas o ponto que eu queria comentar é esse do voto.

Acredito que se você, leitor, está lendo isso aqui então você é um cidadão urbano, e provavelmente tem a sua casa pra morar e sua comida pra comer. Eu estou nessa condição também. Pra nós isso é coisa de aula de história, né? Mas esses lances acontecem hoje em dia. Basta pegar uma população com pouca instrução que vai ter um safado querendo explorar se aproveitando disso! Essas pessoas não tem muita condição de reclamar. Reclamar com quem? Os órgãos "competentes" (entre aspas) são chefiados por esses pilantras, que chantageiam o povo na hora de votar. Nessas localidades não tem essa de voto secreto. Tá certo que ninguém vai te vigiar na urna, então você pode mentir quando te perguntarem em quem você votou. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, esse pessoal mais humilde é quem menos mente.

E a R vai continuar tentando dar o jeito dela de arrumar uma casinha. Mas já disse que se não conseguir vai "meter a boca no trombone". Vai em rádio, jornal, Chico na TV e os cacete! Armar um escândalo! E também é por isso que estou escrevendo isso, pois se você que está lendo trabalha na imprensa, conhece alguém que trabalha, é amigo de alguém que conhece quem trabalha, etc. e estiver interessado cobrir isso entre em contato comigo pelo email mz@meleu.cjb.net.

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